domingo, 31 de janeiro de 2010

Na contra mão


Se você tivesse escolha, se por um acaso você pudesse mandar no seu coração, você escolheria nunca ter se apaixonado por ele. Ou melhor, você escolheria nunca tê-lo conhecido.
Se você tivesse escolha, ah se tivesse. Você poderia evitar todas as lágrimas, os gritos, as magoas, as horas sem dormir. Mas você não tem escolha e mesmo se tivesse se apaixonaria de qualquer forma, não há saída de emergência dessa vez. Sem escapatória.
E você suporta todos os sorrisos de escárnio, todas as palavras ferinas, todos os olhares de desprezo, todas as vezes que ele passa por você e finge que você não existe.
Você procura alcançá-lo, estica o braço e tenta capturá-lo, mas é inútil, é como tentar segurar o vento com as mãos.
E mesmo que ele tenha o prazer meio perverso de te machucar, no final das contas só de ouvi-lo dizer que te ama de um jeito um tanto peculiar acaba valendo a pena. Pois você sabe que se ele disses com todas as letras "eu te amo" seria mentira, porque é isso que ele faz, mentir. Ele mente pra você e mente pra ele mesmo.
Então quando ele te olha no fundo dos olhos e os dedos dele passeiam quase imperseptíveis por toda extensão de sua pele, e quando ele esquece por alguns segundos aquele sorriso cínico irritante, você percebe que amá-lo é invevitável.
- Eu te odeio - as palavras saiem da boca dele meio que de cabeça para baixo, ao contrário, na contra mão.
E então você abafa uma risada, porque só vocês dois conhecem o verdadeiro significado daquelas palavras, é como um segredinho só de vocês, uma piada interna de duplo sentido, um jogo só pra dois, um mundo particular onde só existem duas pessoas. Ele e você.
Porque se você tivesse escolha, se por um acaso você pudesse mandar no seu coração, você escolheria poder se apaixonar por ele.

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