sexta-feira, 25 de maio de 2012

Blank pages


Num dia você ta ali, com a boca cheia de dentes de leite, sorrindo de orelha a orelha, brincando de pés descalços na rua, ralando os joelhos, acordando cedo pra ver cartoon. Motivo pra chorar, cadê? A maior tragédia do mundo é quando Mainha esqueceu de comprar seu nescau, e pra você dor no coração é chorar assistindo o cão e a raposa. Nessa época, tudo é tão terno e lento, o tempo se arrasta feito lesma. Mas então, em certo ponto, historiadores ainda descobrirão exatamente quando, tudo muda. A vida começa a se mover com presa, escapando entre teus dedos como areia, te deixando sem folêgo. Os natais perdem a magia que costumavam ter, todos os dentes de leite já se foram. Os joelhos ralados são apenas cicatrizes, uma vaga lembrança de brincadeiras de um verão que acabou há muito tempo. Dor no coração agora é quando você vê a vida de um ente querido se esvaindo aos poucos. E tudo d­ói. Dói e arde e sufoca.
Mas perdoe as lágrimas que teimam em molhar meu rosto, perdoe minha vontade de fugir. E se não der pra entender nada: me perdoe. Eu tinha juntando um bocado de palavras na cabeça, criando um discurso pra te explicar tudo, tinha começado um livro pra te contar minha historia, porém fiquei sem voz e as páginas continuam em branco.