sábado, 12 de julho de 2014

the road so far #1

Só algumas fotos pra ilustrar o começo de uma nova vida.


Nuvens no avião/ Chegando na Suíça/ Flores no jardim da minha vó/ Cerejeira 

Cerejas pretas/ Insônia / Cafézinho em Yverdon/ Paz em forma de vela

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Tabula rasa



Eu me mudei. Mudei de país. Avancei cinco horas os ponteiros do relógio. Mudei até o tom de voz. Não dizem que isso acontece quando você fala em outra língua?
Depois de tanto tempo eu finalmente fugi de casa. (Voltei pra casa.) E como boa fugitiva não trouxe muitas coisas nas malas, me desapeguei mesmo. No final das contas, a maioria das coisas que nos parecem importantes, são apenas um monte de tralhas sem muito valor, e você só percebe isso quando precisa decidir o que vai e o que fica.  O que você escolheria? O que jogaria fora?
E já que minha vida mudou, decidi que estava na hora do blog mudar também. Mudar de nome, de cara, de sentido. Afinal ele me acompanhou ao longo dos anos e nada mais justo do que ele também se reinventar.Eu escolhi esse novo nome porque eu não quero mais fugir de casa, porque eu estou bem aqui, porque pela primeira vez em nove anos eu estou, de fato, em casa. Eu queria que esse blog continuasse representando um pouco da minha personalidade, que fosse um nome simples e pequeno. E eu sempre andei meio torta sabe? Eu não tenho opinião formada sobre tudo. Sou, admito, um pouco danificada. Sinto que a vida me deixou assim, de viés. Andei por tanto tempo na contra mão que fiquei enviesada.


domingo, 1 de setembro de 2013

Cheers Darlin'

There's still a little bit of your song in my ear
Ainda há um pouco de sua canção em meu ouvido
There's still a little bit of your words I long to hear
Ainda há um pouco de suas palavras que eu desejo ouvir
Cannonball - Damien Rice


i.
“Desculpa.” Você disse olhando pro chão, as mãos escondidas nos bolsos da calça social.
“Desculpo.” Respondi tocando teu pulso timidamente. Engoli em seco, forçando as palavras para o fundo da garganta e deixei que você fosse embora. Era o começo do mês de setembro, final do verão e o fim do seja-o-que-for que a gente tinha. (Mas eu não sabia disso) Eu deveria ter percebido que aquilo era tua forma de dizer adeus. Com outras palavras, outras letras, outros sons, mas no fim...foi um adeus do mesmo jeito.
ii.
“Eu preciso te falar uma coisa.” Você me diz, em agosto do ano seguinte, com um sorriso fácil preso nos lábios, os olhos claros brilhando.
“Eu também. Respondo trêmula.
“Eu me apaixonei por uma menina lá em Paris.” Você confessa num misto de orgulho e timidez.
“Oh...okay.” Gaguejo.
“E você? O que quer me dizer?”
Abro a boca para responder, para finalmente te dizer tudo...
Lembro do jeito exato como costumava bocejar e se espreguiçar quando acabara de acordar. Das garrafas vazias de cerveja na mesinha da tua sala. Dos lençois jogados no chão do teu quarto, junto das nossas roupas. Da primeira vez. Da última visita. Das xícaras de café fumegando na bancada da cozinha. Lembro da tua mão hesitando na base da minha coluna, tocando muito levemente, como os dedos de um fantasma. Tua escuridão tragando um pouco da minha luz. Não me esqueci da dor entre as minhas pernas ou da ardência nos meus olhos quando você virou as costas pra mim. Dos teus dentes nos meus lábios. Da primeira vez que te fiz rir alto. Das minhas unhas fincadas na pele fina das tuas costas. De você dedilhando melodias tristes no violão. Dos nossos pés frios se tocando debaixo dos cobertores. Penso na primeira vez que te olhei intensamente e você não desviou os olhos, mesmo quando te falei coisas sentimentais de menina. Lembro das vezes que acordei na minha cama vazia, acompanhada somente pelo teu cheiro impregnado na fronha do meu travesseiro. Revivo em alguns segundos tudo que aconteceu entre nós. Quem sabe da próxima vez...
Fecho a boca. Forço um sorriso.
“Hein? O que tem pra me falar?” Você insiste, curioso.
“Oh, nada não. Esquece. Me fala dessa menina de Paris”

terça-feira, 9 de abril de 2013

Waldo hats and oversized sweaters




Eu deitei nas tuas costas, e contei cada sarda que existe entre tuas omoplatas, passei os dedos pelas tuas tatuagens, pronuncei as palavras em inglês com um sotaque engraçado e você abafou uma risada no travesseiro. Decorei cada cicatriz e cada história por trás delas. “Isso foi quando tive a boa ideia de tentar socar alguém enquanto ainda segurava uma garrafa de cerveja.” você me disse, após andarmos de mãos dadas pela primeira vez e eu ter notado a cicatriz na palma da sua mão. Eu vesti todos os teus suéters de lã, porque eles eram grandes o suficientes para esconder e aquecer minhas mãos nas mangas longas sem precisar de luvas. Você passou a usar minha boina de lã vermelha e branca e não se supreendeu quando todo mundo começou a te chamar de Waldo. E sem sequer notar acabei criando raízes dentro de você e elas expandiram-se entre tuas costelas com cada beijo contra um joelho dolorido, cada música cantarolada no pé do ouvido as duas e vinte e oito da manhã, com cada suspiro, cada toque de mãos pronlongado para aquecer dedos dormentes pelo frio, cada sorriso que cria ruginhas no canto dos teus olhos. Eu que sempre fui sem patria, sem casa, sem nada, passei a te chamar de lar. Você enrola os braços na minha cintura e solto um suspiro de alívio, ah como é bom estar em casa, os pensamentos se silenciam, cada músculo contraido finalmente relaxa e por alguns segundos fico completamente serena. Eu bato o pé no chão, e cerro os dentes, digo que te amo há alguns meses, mas acho que venho te amando desde o dia que nos conhecemos, desde o primeiro apelido idiota. Te amei antes da cicatriz ridícula em tua sobrancelha e depois da primeira risada exagerada. Te amei durante tua fase punk, te amei quando você roubou as chaves do carro do meu melhor amigo e sugeriu que fugissemos pro sul da França. Te amei depois de um domingo na cama bebendo chá quente, ouvindo a chuva batendo contra as janelas. Te amei antes, durante e depois.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Part of me, apart from me.


My sister, what made you fall from grace
Minha irmã, o que te fez cair da sua graça?
I'm sorry that i was not there to catch you
Me desculpe se eu não estava lá para pegar você
O'sister - City and Colour


Eles são tão parecidos que é impossível não perceber de cara que são irmãos. O mesmo cabelo preto, os mesmos olhos claros. O mesmo sorrisinho enviesado. E ele nunca se incomodara com isso, até ela morrer. Até que o simples fato de olhar-se no espelho transformou-se em um tipo de tortura, um lembrete constante, uma ferida aberta.
Mas talvez o pior nem fosse não lembrar ,mas sim ir aos poucos esquecendo de detalhes que pareciam não importar, como o cheiro da pele dela. Ela usava um sabonete de romã ou algo assim que sempre se impregnava nas roupas dele depois de um abraço. Ou o som da sua voz , o jeito que costumava prolongar as vogais ao falar palavrão, tipo “Poooorraaaa, eu te avisei, caralhoooo”. E em qual tornozelo ela tinha aquela cicatriz em forma de lua crescente, o direito ou o esquerdo?

No aniversário de cinco anos da morte dela, ele está deitado na cama, olhando pro teto, completamente sem sono. Está chovendo e o som o faz se lembrar de uma noite de tempestade quando eles eram crianças e ele costumava ter problemas pra dormir.
Ele fecha os olhos com força.
“Deita e escuta a chuva batendo nas janelas.” O som soa tão claro em sua mente que de repente parece que tem doze anos de novo e não há nada de errado, sua irmã está na cama ao lado, então está tudo bem, não é preciso ter medo. Mas é só uma lembrança distante, borrada pelo tempo e pela dor.
“Eu te vejo em duas semanas”
essas foram as últimas palavras dela pra ele, aquele é o último abraço que eles compartilharam. “Não morra de saudade.” Ela falava implicante, o úlitmo sorriso torto nos lábios.
Ele olha pras cadeiras no canto do quarto, e lá estão eles, conversando, o cabelo preto idêntico, os olhos no mesmo tom esverdeado. Ele confessa pra ela que se apaixonou por alguém que merece coisa melhor, merece alguém menos complicado, menos magoado.
“Deixa de besteira” ela responde, batendo no seu braço, para, sei lá, ênfase. Ele escuta os conselhos que ela tem pra dar, porque ela é a irmã mais velha e entende dessas coisas.
A chuva diminui gradativamente e finalmente cessa.

Ele abre os olhos.
As cadeiras estão vazias.

sábado, 13 de outubro de 2012

The days pile up, silly girl.

I guess that it's typical to cling to memories you'll never get back again
Eu acho que isso é típico se agarrar às memórias que você não terá de novo
And to sort through old photographs of a summer long ago or a friend that you used to know
E solucionar isso através de fotografias velhas de um verão de muito tempo atrás ou um amigo que você costumava conhecer
Happy Birthday To Me - Bright Eyes.

Eu fico imaginando como é que seria minha vida se eu não tivesse me mudado. Me pergunto se seria mais fácil me levantar toda manhã se eu ainda estivesse em casa. Nada de “Força! Levanta. Mais um dia. Levanta!” Eu teria problemas pra dormir a noite? Eu ainda seria amiga do pessoal da minha escola? Será que se tivesse ficado eu valorizaria minha família como o faço agora? Penso em todas as coisas que perdi oito anos atrás. Todas as festas de aniversário, todos os natais. A graduação da turma B, que eu chamava de minha com tanto orgulho. Não pude ver meus primos casando e nem os filhos deles nascendo. Não pude me despedir de gente que nunca mais vou ver. Espero que você entenda que eu perdi uma parte de mim nesse processo, que perdi algo que nunca vou conseguir ter de volta e isso é mais doloroso do que você pode imaginar. Mas espero que você entenda que mesmo que eu tenha chorado o equivalente ao lago de Neuchâtel em lágrimas, mesmo que eu sinta saudade todos os dias. Todos os dias. Mesmo querendo ir embora, eu sou agradecida por tudo que aprendi, por todas as amizades que fiz, por todas as experiências que vivi. Eu perdi muito, mas também ganhei muito. Então é aquela coisa agridoce, aquele sentimento de tristeza e felicidade ao mesmo tempo.

A eu de 1998 não faz a mínima ideia de tudo que ainda vai acontecer com ela. Ela não sabe que com doze anos de idade ela vai mudar de país e que com isso a vida dela nunca mais vai ser a mesma. Ela não sabe de todos os prós e contras dessa mudança. A eu dessa foto ainda não sabe andar de bicicleta. Ela nunca se apaixonou. Ela ainda não sabe o que é ter amigos queridos e nem da dor que é se afastar deles. Ela não sabe que vai amar pessoas que nunca viu na vida, nem que um dia ela vai conseguir conhecer essas pessoas. A eu de seis anos de idade ainda não tem medo de hospital. Ninguém partiu o coração dela. Ela ainda não decepcionou ninguém. A Aline de 1998 não sabe de tanta coisa que ainda vai acontecer, mas a Aline de hoje também não sabe o que vem pela frente então, sei lá...vou continuar por aqui, vendo os dias passarem e tentando acompanhar. Vou continuar indo em frente, mesmo que olhando pro passado de vez em quando. Eu vou continuar.Continuar.Acordar.Levantar.Continuar.E repete. Porque sei que a Aline do futuro vai olhar pra 2012 e pensar em tudo que aconteceu até aquele ponto. E estou pronta pra todas as coisas boas que estão por vir, todas as alegrias e conquistas. Mas também estou pronta pra tudo de ruim, pronta pro que vou aprender com os meus erros. Porque, sei lá, eu meio que sei que minha vida sempre vai ser uma mistura de ruim-boa, feliz-triste, perder-ganhar, prós-contras, sempre vou ter esse sentimento agridoce no peito, mas acredito que a vida é assim pra todo mundo. E me diz: o que a gente pode fazer além de aceitar?

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Gloomy Wolf

Um pequeno aperitivo

*Gloomy wolf =Lobo sombrio, calado, triste.
Ele está morando em uma tentativa falha de apartamento, um lugar que fede a mofo, com janelas imundas pela poeira acumulada, uma banheira amarela nojenta, um piso preguento, uma cozinha...ok ela nem vai falar sobre a cozinha, porque tinha uma coisa viva dentro da pilha de louça. “Alguma coisa se mexeu dentro da pia.” E ele só revirou os olhos verdes pra ela. Aquele bastardo. Então ela lavou e guardou a louça. Foi ao supermercado e comprou copos. “Não precisa, já tenho um.” “Cala a boca.” Comprou comidas saudáveis.  “Você sabe que existe algo além de pizza e lasanha congelada, certo?” Limpou as janelas com as mãos dele em volta de seus tornozelos o tempo todo. “Tá com medo que eu caia?” sorriu se achando só um pouquinho. “Essa escada não é segura.” “Aham, sei.” Ele ajudou a lavar a banheira e por último ela conseguiu convencê-lo a usar novas roupas de cama já que as dele estavam rasgadas.“Olha, agora sua casa não parece mais um ninho de rato.” “Cala a boca.”