domingo, 31 de janeiro de 2010

Na contra mão


Se você tivesse escolha, se por um acaso você pudesse mandar no seu coração, você escolheria nunca ter se apaixonado por ele. Ou melhor, você escolheria nunca tê-lo conhecido.
Se você tivesse escolha, ah se tivesse. Você poderia evitar todas as lágrimas, os gritos, as magoas, as horas sem dormir. Mas você não tem escolha e mesmo se tivesse se apaixonaria de qualquer forma, não há saída de emergência dessa vez. Sem escapatória.
E você suporta todos os sorrisos de escárnio, todas as palavras ferinas, todos os olhares de desprezo, todas as vezes que ele passa por você e finge que você não existe.
Você procura alcançá-lo, estica o braço e tenta capturá-lo, mas é inútil, é como tentar segurar o vento com as mãos.
E mesmo que ele tenha o prazer meio perverso de te machucar, no final das contas só de ouvi-lo dizer que te ama de um jeito um tanto peculiar acaba valendo a pena. Pois você sabe que se ele disses com todas as letras "eu te amo" seria mentira, porque é isso que ele faz, mentir. Ele mente pra você e mente pra ele mesmo.
Então quando ele te olha no fundo dos olhos e os dedos dele passeiam quase imperseptíveis por toda extensão de sua pele, e quando ele esquece por alguns segundos aquele sorriso cínico irritante, você percebe que amá-lo é invevitável.
- Eu te odeio - as palavras saiem da boca dele meio que de cabeça para baixo, ao contrário, na contra mão.
E então você abafa uma risada, porque só vocês dois conhecem o verdadeiro significado daquelas palavras, é como um segredinho só de vocês, uma piada interna de duplo sentido, um jogo só pra dois, um mundo particular onde só existem duas pessoas. Ele e você.
Porque se você tivesse escolha, se por um acaso você pudesse mandar no seu coração, você escolheria poder se apaixonar por ele.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Fugindo de casa


Fugindo de casa. Um nome um tanto peculiar para um blog, um tanto dramático, um tanto revoltado, um pouco estranho... ou, talvez, apenas diferente, mal-compreendido.
Passei o dia com um sorriso bobo no rosto, aquele sorriso de quem está tendo um sonho bom ou de quem acaba de descobrir o amor. Então procurei meus cadernos antigos, tirei velhos textos da gaveta, olhei fotos que eu não via há anos e reli histórias que eu nem me lembrava de ter escrito.
Sem que eu percebesse, as horas passaram e eu me perdi bem longe. Fugi de casa sem sequer precisar me levantar do chão frio.
Fechei os olhos e senti o calor do sol contra meu rosto, o cheiro da grama recém-cortada, o vento soprando e batendo na minha pele assim como ondas quebrando em rochas. Tudo parecia perfeito, mas, na realidade, eram apenas lembranças.
Fugi de casa por alguns minutos. Fugi da coisa feita de concreto. Paredes e teto. Mesmo que o meu maior desejo fosse fugir para casa, para a coisa feita de sol, grama recém-cortada e vento, o lugar onde no verão o sol se põe às dez horas da noite, aquele em que passei minha infância, do qual sinto saudades.
Fugi de casa para ir para casa. Não foi perfeito. Mas chegou perto.
Ainda será perfeito, em algum tempo, quando eu estiver lá de verdade.